uma pequena aspirante à escritora

escrevo sobre escrever o tempo todo que chega a ser cansativo e maçante, eu estou fazendo isso, não estou? meu intuito é sempre escrever bem e bonito para colocar em um livro, para então ser lida e ser aceita, por quem você se perguntaria? eu não saberia lhe responder, mas esse alguém pode ser você, e até acredito que seja. eu não escrevo para não ser lida, eu vim para este mundo para isso, e talvez eu precise estudar mais para que possa me comunicar com quem quero. mas o mundo também virou um grande ponto comercial, se não há valor em algo então você não receberá algo em troca. do nada isso virou uma discussão política, o que deveria ser uma fuga daquilo do que tem me destruído, e me feito sangrar por dentro, acabo correndo para o mais banal só para fugir daqui, e o mais irônico é que este é o único lugar em que quero estar. deixar que as palavras falem por mim, sem que sejam alteradas, sem que sejam questionadas, que sejam apenas palavras. quero escrever tão feio agora, não quero ser poeta, quero ser humana e ridícula, e chorar, e pedir socorro, e parar de fugir o tempo todo, queria desistir, mas queria tentar de novo, queria arrancar esse pedaço de mim que me faz acreditar que minha vida está fadada a ser tudo que não quis que fosse. e sabe o que é mais ridículo em tudo isso? nós pessoas, nunca nos damos por vencidas, eu moro com a namorada mais bonita e encantadora do mundo, e eu gosto da minha casa (até os 16 eu não tinha meu próprio quarto), e eu estou aprendendo a cuidar das minhas plantinhas. mas eu odeio me olhar no espelho, me acostumei com as falhas da alopecia, meus dias e anos tem sido iguais, parei de ligar pra minha mãe, e não faço mais arte. 

eu morro tantas vezes por dentro. eu queria tocar o mar, escrever bonito, comprar um buquê de margaridas, andar de bicicleta enquanto ouço a trilha sonora do meu filme favorito, sonhando acordada e acreditando que o amor existe, e existe em muitas partes por aí, e que absolutamente nada disso realmente importa, se não a oportunidade de enxergar o amor, apesar de tudo. estou deprimida pela obviedade, pela minha obviedade. eu não quero mais ser adulta, eu acordo todos os dias desejando ser uma pequena criança, aprendendo a andar, sendo apenas uma criança, pedindo para a senhora Perpétua um sorvete com sabor cor de rosa de morango, sendo apenas uma criança, fazendo bolinhos de barro com o toque de uma florzinha amarela no topo, sendo apenas uma criança, chorando aos berros até pegar no sono, sendo apenas uma criança, dormindo nos pés da minha mãe quando eu tinha pesadelos, sendo apenas uma criança, sem saber de nada. e na maior parte de tempo não saber muito é virtude. 

eu esqueci como amar a adulta que me tornei, não sei como isso poderia ser possível, passo tanto tempo ocupada pensando em tudo que eu deveria ser, que esqueço o que sou agora, um amontoado de preocupações excessivas com um futuro próximo, o futuro é amanhã, e eu me resumo a isso no fim dos meus futuros. esqueci de me encontrar, e sinto falta quando me abraçava depois dos banhos, quando pintava, quando era gentil com o que eu sentia, quando não me odiava por apenas sentir, como se houvesse um tempo certo para sentir determinados sentimentos. eu sinto essa dor incontrolável no peito, e oro todos os dias para que arranquem ela de mim, pois tenho medo que ela me arranque a possibilidade de continuar aqui, até o fim.


Comentários

Postagens mais visitadas