uma pequena aspirante à escritora
eu morro tantas vezes por dentro. eu queria tocar o mar, escrever bonito, comprar um buquê de margaridas, andar de bicicleta enquanto ouço a trilha sonora do meu filme favorito, sonhando acordada e acreditando que o amor existe, e existe em muitas partes por aí, e que absolutamente nada disso realmente importa, se não a oportunidade de enxergar o amor, apesar de tudo. estou deprimida pela obviedade, pela minha obviedade. eu não quero mais ser adulta, eu acordo todos os dias desejando ser uma pequena criança, aprendendo a andar, sendo apenas uma criança, pedindo para a senhora Perpétua um sorvete com sabor cor de rosa de morango, sendo apenas uma criança, fazendo bolinhos de barro com o toque de uma florzinha amarela no topo, sendo apenas uma criança, chorando aos berros até pegar no sono, sendo apenas uma criança, dormindo nos pés da minha mãe quando eu tinha pesadelos, sendo apenas uma criança, sem saber de nada. e na maior parte de tempo não saber muito é virtude.
eu esqueci como amar a adulta que
me tornei, não sei como isso poderia ser possível, passo tanto tempo ocupada
pensando em tudo que eu deveria ser, que esqueço o que sou agora, um amontoado
de preocupações excessivas com um futuro próximo, o futuro é amanhã, e eu me
resumo a isso no fim dos meus futuros. esqueci de me encontrar, e sinto falta
quando me abraçava depois dos banhos, quando pintava, quando era gentil com o
que eu sentia, quando não me odiava por apenas sentir, como se houvesse um
tempo certo para sentir determinados sentimentos. eu sinto essa dor
incontrolável no peito, e oro todos os dias para que arranquem ela de mim, pois tenho medo que
ela me arranque a possibilidade de continuar aqui, até o fim.
Comentários
Postar um comentário